O lançamento de "Nheengatu" em São Paulo, deixou o sábado musicalmente mais pesado para quem se deslocou até o Citibank Hall na zona sul da cidade. Sem área VIP, o espaço da pista estava configurado com cadeiras na parte traseira. O que talvez tenha sido feito pensando no público mais, digamos, maduro, que a banda tem - afinal são mais de 30 anos de carreira.
Por falar em público, o do Titãs é dos mais variados: tanto em idade quanto em estilo. Há gente bem vestida, mal vestida, tem perua, povo moderno, retrô, largado, visual 'meu primeiro show de rock', camiseta do Slayer, gente que pensou que estava num festival indie... O Titãs parece atrair absolutamente qualquer tribo. E o que uniu essa gente diversa foi a linguagem dos Titãs, para fazer uma referência ao nome do disco, que num derivado do tupi significa 'língua boa'.
Com todos na mesma sintonia, a cortina subiu às 22h15 para revelar um palco decorado com o pano de fundo trazendo a capa de "Nheengatu". O show abriu com uma sequência de canções do novo disco - "Fardado"; a pesada, em todos os sentidos, "Pedofilia"; "Cadáver Sobre Cadáver" e "Chegada ao Brasil (Terra à vista)". Os músicos estavam mascarados, como no videoclipe de "Fardado". O recurso funcionou muito bem ao vivo: aliado ao som pesado das novas canções, o figurino criou um clima catártico em boa parte da plateia - especialmente a mais jovem.
Para "Polícia", a primeira das antigas apresentada, a banda se despiu da fantasia e voltou ao palco de cara limpa. Daí em diante, o Titãs foi intercalando novas e antigas - teve "Fala Renata", a sempre brilhante "Bichos Escrotos", "Mensageiro da desgraça" - feita para recitar junto com a banda -, "Republica dos Bananas", "Flores", "AAUU", "Desordem", "Vossa Excelência", "Cabeça Dinossauro", "Diversão", "Televisão", "32 dentes".
Algumas faixas ganharam arranjos diferenciados, até para se encaixarem no repertório, cuja proposta segue essa sonoridade mais pesada de "Nheengatu". Até a improvável baladinha "Sonífera Ilha" teve espaço no show. A banda tocou também três versões: a 'nova' e empolgante "Canalha" (de Walter Franco); "Aluga-se", que foi introduzida por Sérgio Britto com o comentário: "Antes que vocês peçam, vamos tocar Raul..." e "Marvin", que fechou o show depois de quase duas horas e algumas saídas e reentradas ao palco.
Com cinco músicos na formação, a banda revezou Branco Mello e o tecladista Sergio Britto no baixo dependendo de quem fazia os vocais. Paulo Miklos e Tony Bellotto ficaram nas guitarras e o amigo Mario Fabre, que assumiu a bateria desde a saída de Charles Gavin, até ganhou um momento de destaque para um rápido solo em "Cabeça Dinossauro".
Os Titãs podem não ser exímios músicos, tecnicamente falando. Mas o conjunto da obra consegue ser tão empolgante como era lá nos anos 80 - mesmo sem metade do time original. Bons compositores e bons letristas - apesar da falta de Arnaldo Antunes e Nando Reis - o grupo sabe dar um bom espetáculo: riffs reconhecíveis, melodias que há muito estão coladas em nossa memória, letras que cantamos sem nem perceber que as sabíamos de cor, punch e diversão.
E é sempre louvável quando uma banda com história longa como o Tittãs consegue segurar um show em alta com tantas músicas novas. Mostra a força não apenas da banda mas também desse do disco. E não posso deixar de citar o produtor Rafael Ramos que não estava em cima do palco, mas é um dos grandes responsáveis por essa nova 'fase' dos Titãs. Ele merecia estar lá na hora em que os músicos se abraçaram para fazer aquela reverência em agradecimento ao público.
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