Vange Leonel - O adeus dos olhos verdes

Vange Leonel - O adeus dos olhos verdes



Depois de Redson (Cólera) e Hélcio Aguirra ( Golpe de Estado), o rock brasileiro sofre mais uma baixa irreparável. Faleceu na segunda feira, dia 14 de julho, a cantora Vange Leonel, dona de uma das mais bonitas e poderosas vozes do pop-rock nacional.

Magra, esguia, olhos verdes imensos, cabelos desgrenhados e rebeldes, jeito moleca, Vange começou a se fazer notar no cenário musical paulistano no início dos anos 80 ao integrar os grupos XPTO e Fix Pá, onde, além de cantar, realizava performances malucas no palco. O pulo do gato veio em 1985 , quando, aproveitando a onda do novo rock brasileiro, que estava renascendo com força e catapultava para o estrelato bandas novas como Titãs, RPM e Legião Urbana, montou a estupenda banda Nau, ao lado de três ótimos músicos, Beto Birger (baixo), Mauro Sanches (bateria) e o genial guitarrista Zique. Chamaram a atenção do produtor Luis Calanca, do selo independente Baratos Afins, que bancou a gravação de duas músicas,“Madame Oráculo” e “Sofro” e incluiu-as na coletânea “Não São Paulo 2”. As músicas tocaram bem nas rádios roqueiras paulistas de então, como 89Fm e 97Fm, o que ajudou o quarteto a conseguir um contrato com a CBS para lançar seu álbum de estréia , “Nau”, em 1987. O disco era espetacular e trazia onze faixas irepreensíveis. O som era moderno, pesado, cheio de groove e punch. Difícil definir o som da Nau, a cozinha era intensa e swingada, a guitarra de Zique remetia ao melhor do pós-punk e o vocal de Vange tinha um feeling blueseiro. Essa química improvável resultou num som poderoso e pessoal que ainda hoje soa completamente atual. Ao vivo então, a catarse era completa. Tive a sorte de vê-los no Sesc Pompéia , abrindo para o sublime Violeta de Outono, e eles literalmente roubaram a cena.
Vange então estava no auge da juventude, usava jeans rasgado, bata indiana, cabelos louros compridos e cantava totalmente embriagada pela música. Era naturalmente sexy e despertava a atenção de todos no teatro, mesmo que não tivesse a intenção de faze-lo. Havia algo de Lene Lovich e Janis Joplin nela. Talvez algo de Siouxsie e Elza Soares. Só sei que Vange brilhava e todos no teatro percebiam que havia uma estrela nascendo ali.

O disco tocou bem nas mesmas rádios roqueiras, com destaque para “Bom Sonho”, que virou o grande hit da banda, mas infelizmente não foi o suficiente para alça-los ao mainstream. A banda ainda chegou a gravar as demos para um segundo disco , “Dobras do Universo”, mas nenhuma gravadora se interessou. Assim, a Nau naufragou de forma melancólica e cada um foi para o seu lado. Vange foi a que se deu melhor, saiu em carreira solo e em 1991 gravou “Vange”, pela Sony, todo tocado e produzido por seu primo Nando Reis. As letras e composições eram parcerias suas com sua eterna companheira, a jornalista Cinara Bedaque. O disco foi um sucesso comercial e a música “Noite Preta”, que entrou na trilha da novela global “Vamp”, estourou no Brasil inteiro, tornando Vange conhecida nacionalmente. O disco era ótimo, e além da swingada “Noite Preta”, trazia pérolas pop como a poderosa “Felizes” e a comovente “Esse Mundo”, um inspirado libelo pacifista-espiritualista. Enfim, conteúdo de alto nível servido em embalagem pop. O disco rendeu muitos shows e aparições de Vange na mídia, foi, sem dúvida, seu auge artístico e comercial.



Em 1996 Vange lança seu segundo solo, “Vermelho”, já por uma gravadora pequena, Medusa Records. O novo disco , além de conter apenas sete faixas, traz um novo direcionamento musical e lírico, mais voltado pra MPB e com letras sobre o amor lésbico. O disco não repetiu o sucesso anterior e Vange foi se desinteressando pela música e se aproximando da literatura. Nesse período escreveu quatro livros , todos com temática lésbica e manteve uma coluna sobre o mesmo assunto na revista da Folha de São Paulo. Dedicou a última década e meia ao ativismo em prol dos direitos de gays e lésbicas, participando raramente de algum show. 

No final de junho último descobriu um tumor maligno em um de seus ovários. Em 20 dias faleceu. Nunca mais gravou nada , nunca mais nos presenteou com sua maravilhosa voz , rouca e doce. Não vai mais se embriagar de rock e blues nos palcos , não vai mais seduzir teatros inteiros com seu charme e imensos olhos verdes.

Como dizem os oníricos versos de “Esse Mundo”“ Bem vindos, o trem já vai partir, temos muito o que descobrir. Esse mundo vai nos ver cantar, vai nos ver sorrir.” 

É lá que agora Vange está cantando e sorrindo.
mas andes

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