RL ENTREVISTA: Dinho Ouro Preto fala sobre rock nacional, eleições e novo EP do Capital Inicial

RL ENTREVISTA: Dinho Ouro Preto fala sobre rock nacional, eleições e novo EP do Capital Inicial




Falando em números e datas especiais, você completou 50 anos em abril, participou do programa Superstar no primeiro semestre e já está em uma maratona de entrevistas, shows e divulgação do novíssimo Viva a Revolução. Se você fizesse uma autoanálise, qual seria a maior revolução pessoal vivida nesses últimos tempos?
Nas últimas entrevistas que tenho feito, a grande maioria dos repórteres tem me perguntado sobre a questão das drogas. Parei de fumar maconha há um ano. Drogas pesadas já faz mais tempo. Não tenho problemas em falar sobre isto, mas te agradeço por trazer uma nova proposta. Sendo assim, acredito que a maior revolução da minha vida foram meus filhos. O fato de ter parado com os excessos está diretamente ligado a eles, e por sua vez, isso me fez um cara mais saudável, sereno e produtivo. É curioso dizer que hoje, aos 50 anos, vivo o momento mais saudável da minha vida. Me sinto mais bem disposto do que aos 20 ou 40 anos. Hoje toco e componho muito mais que em outros tempos. O último disco do Capital Inicial saiu há apenas um ano e meio e já estamos lançando um novo trabalho. Acredito que essa capacidade de trabalho passou a ser uma norma em minha vida por estar diretamente ligada à felicidade que tenho em estar com meus filhos.

Mas por que a banda decidiu lançar um EP em vez de um álbum completo? Tem a ver com a ideia de baratear o acesso desse novo material? Roberto Carlos teve uma experiência bem sucedida com o formato.
Sim, tudo isso influenciou. O processo é o seguinte. A gravadora vende o disco a um preço irrisório para os lojistas, que por sua vez desejam um lucro altíssimo em cima deste produto e acabam prejudicando o desempenho comercial ao jogar os valores na estratosfera. O Roberto Carlos, se não me engano, colocou quatro músicas no EP dele. O Capital está entregando metade de um disco cheio. Estamos liberando seis faixas mais uma bônus track, o que totalizam sete músicas. E de alguma forma queremos testar o mercado. Claro que estou curioso em saber se este formato irá impactar nas vendas, mas não é só isso. O Capital tem 13 discos de estúdio, fora os “ao vivo”, projetos especiais e coletâneas. O que queríamos com esse trabalho é que ele representasse “um ponto fora da curva”. Isso explica a razão de termos buscado outros parceiros, outro produtor e consequentemente um novo formato.

Por muitos anos vocês trabalharam com o Marcelo Sussekind. Os dois últimos álbuns foram produzidos pelo David Corcos. E pela primeira vez trabalharam efetivamente com o Liminha (entre Dinho e Alvin L., na foto ao lado). Como aconteceu esse encontro e como foi sair um pouco da zona de conforto?
Por incrível que pareça, a primeira vez que o Capital entrou em estúdio, há 30 anos, foi com o Liminha. Ele produziu nosso primeiro compacto ["Descendo o Rio Nilo"/"Leve Desespero"]. Depois disso, nunca mais. Acabei reencontrando o Liminha durante o Rock In Rio e o convidei para tentarmos algo. O cara é um baluarte, um símbolo, tocou nos Mutantes. Foi uma parceria feliz, mas o processo não foi tão fácil. Ele é meio como a gente. Marca hora para gravar e só aparece no dia seguinte. Depois tudo sai, mas nunca com os horários combinados. Acabamos levando até mais tempo que o esperado para gravar.

“Gênios” costumam ser difíceis e parece que o Liminha segue esta máxima à risca. Ao mesmo tempo, é intrigante ver o quanto ele ajudou muitas bandas a colocar toda a criatividade para fora, sem medo de ousar. Trabalhos definitivos como Selvagem?(1986) e Õ Blésq Blom (1989) apontaram novos direcionamentos à discografia dos Paralamas do Sucesso e dos Titãs, respectivamente. Partindo desta premissa, vocês se sentiram mais animados a experimentar mais neste EP?
Encontrei o Sérgio Britto outro dia e ele comentou que as batalhas do Liminha contra o relógio fizeram com que os Titãs deixassem de trabalhar com ele por um tempo. Mas sem dúvidas, ele é um cara que mete a mão na massa. Não teve nada nesse disco que ficasse do mesmo jeito após passar por ele. Cada canção aponta para uma direção diferente e algumas vão por caminhos que nunca experimentamos. À essa altura de nossa carreira, podemos nos permitir ousar um pouco mais.

A participação do Cone Crew Diretoria na faixa-título me parece ser uma ousadia. Como foi trabalhar com eles? 
É uma das minhas faixas favoritas. Usamos uma guitarra distorcida pra c*ralho e os caras foram rimando em cima. Ficou animal. Acho que a molecada vai curtir nos shows. Espero!

Existe diferença entre ser um artista popular e fazer música pop?
Nos últimos anos, o Capital fez dois de seus discos mais roqueiros [Das Kapital (2010) e Saturno(2012)]. São trabalhos onde nos permitimos testar sonoridades mais sujas e agressivas, com faixas menos bem-acabadas. Muito disto se deve ao trabalho com o [David] Corcos. Há muitos elementos que remetem ao pop/rock nesses discos e mesmo assim, a gente tocava pra plateias grandes. Tocamos recentemente pra 25 mil pessoas no Vale Anhangabaú, em São Paulo. É um privilégio o fato do Capital ter chegado até aqui e ainda ser uma banda popular. Essa liberdade conquistada ao longo desses anos nos permite gravar o que bem entendemos sem pressão da gravadora. Temos a consciência do quão grande é o nome “Capital Inicial” e que tocamos para grandes plateias, mas temos que lutar por nossa própria revolução. A gente acompanha o que as pessoas acham de nossas músicas novas, por exemplo. Estamos sempre interagindo com nossos fãs pela internet. E eles nos consideram uma banda de rock.

Sobre sua experiência no Superstar, ainda existe um público predisposto a conhecer bandas como o Malta? É raro termos artistas que emplacam após participarem desses programas de talentos. Me parece muito efêmero, não?
Eu concordo com você, mas tenho esperança de que esse programa vá à frente. A impressão que tive é de que o Malta é uma banda de verdade. Os caras apresentaram oito, nove músicas próprias. As quatro bandas finalistas, na verdade, são ótimas. Os caras tocam bem pra caramba, tem fãs articulados, tem fan-pages. Eu entendo a sua questão com relação aos programas de calouros, ou sei lá como podemos chamar isto, muito por conta de artistas da gringa que estouraram mundialmente e tiveram seus 15 minutos de fama apenas. Mas eu sinto que no caso destas bandas que participaram do Superstar, a coisa pode rolar diferente. Eles mostraram um repertório novo para um público desconhecido, mas ao mesmo tempo eles já possuem uma boa base de fãs. Nenhum deles tinham, de fato, uma gravadora “por trás”. Mas as músicas de alguns deles já tocam nas rádios. Acredito que tenha espaço para novos artistas sim e torço muito para que eles encontrem o caminho deles.

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Falando em novas bandas, existe algum nome da cena atual que você admire?
Gosto muito do Chuck [Hipolitho], que era do Forgotten Boys. Acho animal o trabalho dele com o Vespas Mandarinas. E o Selvagens à Procura de Lei também é bem bacana. Tenho escutado muito essas duas bandas.

Voltando a falar do novo EP (capa, ao lado), outra participação especial é a de Thiago Castanho, ex-Charlie Brown Jr. Você, Thiago e o Alvin L. compuseram “Coração Vazio” e “Melhor do que Ontem”. Como surgiu essa parceria? 
Já nos conhecemos há muitos anos, de um frequentar a casa do outro. Nossas esposas são amigas. O Capital e o Charlie Brown já tocavam juntos há uns 15 anos. Mas esta proximidade aumentou porque descobrimos que gostamos da mesma praia no litoral norte de São Paulo. E a casa dele fica ao lado de onde eu costumo ficar. E aí a gente se encontrava, pegava umas ondas, tocava violão junto. Este último verão ele estava num baixo astral danado por tudo que aconteceu no ano passado (o falecimento dos ex-companheiros Chorão e Champignon). Tentei resgatá-lo dessa tristeza e o chamei pra fazermos um som juntos. Dessa brincadeira surgiram várias músicas e essas duas que você mencionou foram as que entraram no disco. Ele participa tocando violão em uma delas, inclusive.

O clipe de “Melhor do que Ontem” acabou de ser lançado e certamente se junta à ótima videografia do Capital. “O Mundo”, “Quatro Vezes Você” e “O Lado Escuro da Lua” são bons exemplos. Você se diverte fazendo clipes?
Sinceramente não. Nossa onda é gravar e fazer shows. Mas o clipe que gravamos no deserto [“O Lado Escuro da Lua”] foi animal de fazer. Neste a gente se divertiu muito. Mas no geral achamos complicado porque não temos a veia “artística” para a atuação. Eu, particularmente, admiro muito o Dave Grohl. Ele é um puta ator, engraçadíssimo. Os clipes do Foo Fighters são incríveis. Até mesmo na época do Nirvana, ele e o Kurt Cobain tinham uma intimidade bacana com as câmeras. Não é o nosso caso [risos].

Como surgiu a ideia deste último? 
Gravamos este novo clipe com o Alex Miranda. Ele que fez uma boa parte dos clipes do Charlie Brown Jr. A única coisa que pedi é que não atuássemos e que aparecêssemos como uma banda de rock. Alex nos pôs tocando em um caminhão no meio da Avenida Paulista. Gravamos entre meia noite e 3 da manhã, com nenhuma alma penada na rua. E os locais que escolhemos para filmar ficaram f*da. O resultado ficou incrível.

Clique aqui para ver o vídeo
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